quarta-feira, 3 de março de 2010

A casa do vizinho é sempre melhor...


Na casa do vizinho tem carro importado, piscina, empregados, cachorro, gato, papagaio... Uma família aparentemente feliz, uma vida incrivelmente invejada. Pai médico, mãe advogada, 2 filhos na faculdade, seguindo a profissão dos pais. O retrato da vida perfeita!
E a minha casa?! Ah, não temos carro próprio, nem piscina, muito menos empregados; apenas um cachorro pequeno, não gostamos de gato e nosso papagaio fugiu faz tempo. Na cozinha uma geladeira nem sempre cheia, um fogão que as vezes tem pouco gás e um armário com leite e biscoitos. Somos apenas 2 mas rodeadas de quase 10 da família que, ao todo, tem cerca de 70 membros.
O que tem materialmente no vizinho e não tem aqui é extremamente visível; o que temos aqui, e com sobra, talvez não seja muitas vezes visto nem por nós mesmos: o amor! A vida corrida não muito espaço para troca de carinho e demonstrações de afeto. Mas o que tá dentro do coração é óbvio, é real, é eterno...
Um dia, indo pegar o ônibus, ganhei uma carona do filho da vizinha; ele é bonito, doce e educado mas tem uma tristeza no olhar de dá dó... Sorriu gostoso quando falei que estava levando marmita de casa para não gastar com almoço para poder, assim, ter dinheiro para ir ao cinema no final de semana. Ele perguntou com quem eu ia, falei que com um grupo de 10 amigas,as melhores e mais divertidas pessoas que já vi na vida. Ele baixou o olhar, calou-se e, um tempo depois, deu um sorriso tímido. Falou que tem dinheiro para ir ao cinema todos os dias mas que não tem vontade de ir sozinho... Tem receio de quase todos que se aproximam dele pois a maioria tem interesse de conviver com o que ele tem não com o que ele é.
Senti-me tão feliz com minha vida que esqueci todas as dificuldades financeiras que passo. Ao contrário do vizinho, ninguém se aproxima de mim por interesse, se é meu amigo é porque gosta de mim.
Chamei-o para ir ao cinema conosco, ele disse "sim" tão rápido que até o próprio se assustou! Antes de chegarmos ao meu destino, falei para o vizinho que ele tinha tudo que quisesse: dinheiro, carro, mulheres... Mas que ele não pensasse que isso é tudo, porque não é! E que ele nunca perdesse aquela timidez no olhar, pois ela é encantadora!!!Ele sorriu, linda e sinceramente.
Agradeci a carona, pois graças a ela não levei os pisões nos meus pés dentro daquele ônibus lotado! E ele? Ah, ele agradeceu a conversa, as risadas gostosas e os conselhos valorosos.
Agradeceu também o convite para o cinema, que por sinal foi hoje. O filme é esplendoroso, a saída foi estupenda e o beijo dele é ardente, profundo e docemente envolvente...
Hoje, pela 1ª vez, o vi sem aquela tristeza no olhar. Talvez porque, pela 1ª vez, ele tenha vivido emoções reais, sentido de fato que nem tudo na vida são flores mas que os espinhos trazem consigo lições que nenhuma flor pode ensinar.
E o principal de tudo: percebeu que o dinheiro compra a entrada no cinema mas não a risada verdadeira da companheira que tá na poltrona do lado, se contorcendo toda porque não consegue guardar dentro de si tanta felicidade!

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